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Agora, que as campanhas, pró e contra a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, estão a entrar em ebulição, com vista ao referendo do próximo 11 de Fevereiro, não deixa de ser oportuno recordar, com a devida vénia a dois homens para uma mulher, um poema que Natália Correia improvisou quando se discutia este mesmo assunto no Parlamento em 1982.
Um poema de Natália Correia
a João Morgado (CDS)
«O acto sexual é para ter filhos» – disse, com toda a boçalidade, o deputado do CDS no debate anteontem sobre legalização do aborto. A resposta em poema, que ontem fez rir todas as bancadas parlamentares, veio de Natália Correia. Aqui fica:
Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –
uma vez. E se a função
faz o orgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
NATÁLIA CORREIA
Diário de Lisboa, 5 de Abril de 1982.
as bocas